“QUE COVARDIA!!!! Esse pobre coitado - (a foto está ruim, mas acho que todo mundo conhece ele) -, figura Folclórica aqui em Cataguases, saiu de sua casa no Bairro Guanabara, numa sexta-feira, e não voltou. No domingo a família foi procurada por policiais informando que ele havia sido espancado e jogado dentro de um poço desativado, mas ainda com água, no Bairro Pouso Alegre. O pobre coitado não morreu, mas a tortura foi tão brutal que ele ficou cego. Que absurdo!!! Que covardia!!!
Mas nós vamos ficar de braços cruzados, sem fazer nada, sem exigir providências de nossas autoridades??? Não!!! Exigimos a apuração desse triste fato. Precisamos descobrir os autores!!! SUA AJUDA É IMPORTANTE. Por favor, COMPARTILHE esta nota!!!”
Este comentário indignado e revoltado foi postado e compartilhado (ou seja, quem o leu também o postou, criando assim uma grande rede de divulgação do fato) no site de relacionamentos Facebook, no último final de semana. A “notícia” causou um verdadeiro rebuliço entre os internautas, o que é comum quando algo supostamente sério ali é publicado. Neste caso, especificamente, a “vÍtima” é o Xexéu, uma pessoa com problemas mentais muito conhecida dos cataguasenses porque vivia perambulando pelas ruas da cidade, sem rumo e sem incomodar ninguém. Certamente por causa de sua popularidade e de seu jeito inofensivo de ser, o fato despertou diversos sentimentos como pode-se perceber lendo os comentários no próprio Facebook, sendo os mais comuns a raiva, indignação, piedade e desejo de justiça.
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Dona Maria, mãe e quem cuida de Xexéu. |
Mas, afinal, o que aconteceu com Xexéu? Ele teria sido mesmo vítima de espancamento ou tudo isso não passa de invencionice para chamar a atenção das pessoas? E onde está Xexéu? O Blog do Marcelo Lopes foi procurar resposta para estas perguntas. Com a ajuda dos policiais da 146ª Companhia Especial de Polícia Militar em Cataguases, localizou Xexéu e seus familiares na rua Teófilo Almeida, no alto do Bairro Guanabara, numa casinha simples e escura onde passa seus dias ao lado de seus irmãos (dez no total), sobrinhos e da mãe, Maria da Penha Caetanto, uma viúva de 68 anos de idade.
Jorge Luiz Tomáz, de 52 anos, é Xexéu. Desde criança sofre de uma doença mental e foi criado solto pelas ruas por conta de sua rebeldia ao desejo dos pais de mantê-lo a maior parte do tempo em casa, revela a mãe, dona Maria. “Com o tempo ele ficou conhecido das pessoas que “pegaram” carinho por ele e tratavam bem. Nunca ninguém judiou dele na rua. Ao contrário, as pessoas traziam ele de volta para casa” (sic), diz em voz baixa e com tranquilidade.
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Apesar de todos os problemas que enfrenta, Xexéu sorri para a foto |
Xexéu vivia assim até o início deste ano quando em fevereiro “eu acho, né?, porque não lembro direito”, revela a mãe pedindo ajuda – em vão - da filha - em vão para recordar a data. Naquele dia Xexéu saiu de casa, como de costume, e só voltou na manhã seguinte, machucado e molhado, trazido pela PM. Os policiais o encontraram caído dentro do ribeirão Meia Pataca, próximo à Escola Municipal Turminha da Mônica. “A polícia disse que encontraram ele por volta das cinco horas da manhã, consciente, batendo queixo e machucado no rosto, nas pernas e o olho roxo” contou. Em seguida foi levado ao hospital para ser medicado e fazer os curativos voltando para casa imediatamente.
As feridas no corpo cicatrizaram logo, mas o problema maior ainda estava para acontecer. Segundo lembra dona Maria Caetano, “pouco tempo depois, acho que um mês mais ou menos, meu filho parou de enxergar e até hoje não recuperou a visão. Não sei se foi por causa do acontecido aquele dia no Pouso Alegre”, acrescenta resignada. Desde então Xexéu não sai mais de casa e precisa da ajuda de outra pessoa para comer, beber água, dormir, tomar seus remédios, ir de um lugar ao outro dentro de casa e fazer sua higiene pessoal. “Eu que cuido dele”, diz a mãe, com a voz sempre baixa e serena, acrescentando em seguida: “Mas sempre que meus filhos podem, também ajudam”.
A família tentou descobrir o que aconteceu com Xexéu, mas não conseguiu uma resposta definitiva. Segundo dona Maria, “a polícia disse que não descobriu nada, mas não acha que ele tenha sido espancado”, revela. Com base no relato de dona Maria há duas hipóteses para o que teria acontecido com Xexéu. A primeira e mais improvável seria um espancamento, principalmente porque nunca ocorrera até aquela data um fato de violência contra ele. A segunda é a de que estaria andando à margem do Meia Pataca, à noite, e se desequilibrou caindo na água. Escuro e assustado com a queda é bem provável que tenha se apavorado e ficado nervoso, inclusive com medo de morrer afogado, o que também teria impedido que ele conseguisse gritar por ajuda. Assim, pode ter ficado debatendo-se na água durante horas, querendo sair do ribeirão. Por causa destes movimentos e do estado de pânico que tomou conta dele feriu o corpo e o olho.