
O jornalista do jornal Folha de São Paulo, Marco Rodrigo Almeida, escreveu o seguinte sobre a mais nova lavra de Ruffato. “Em conjunto, os cinco livros formam um painel da história do operariado brasileiro nos últimos 50 anos.
Foi com essa ambição - de retratar o trabalhador comum - que, há cerca de 15 anos, Ruffato escreveu seu primeiro livro, "Histórias de Remorsos e Rancores" (1998).
Dele ao mais recente livro, o escritor dedicou-se ao árduo trabalho de escapar dos clichês. O mais perigoso deles seria retratar os operários como tipos rasos e esquemáticos, apenas vítimas da desigualdade social.
"A série é totalmente o contrário do que se espera de uma literatura sobre o trabalhador braçal. Não tem coitadinho no meu livro", explica.
Também não tem a linguagem direta e crua que, em geral, marca os relatos sociais. Cada livro é formado por histórias breves, com diversos personagens, de forma não linear, sem um "começo-meio-fim".
É nas entrelinhas, portando, que o leitor deve buscar o sentido dessa saga tão diferente de um enredo clássico.

Quase sempre, porém, vão encontrar apenas outras formas de desilusão. Se a série tivesse uma "moral da história", poderia ser: "o inferno está em todos os lugares".
"Está dentro de cada um", enfatiza o autor.
Ruffato nega qualquer motivação autobiográfica nos livros, mas é difícil não associá-lo aos personagens. Como muitos deles, o autor nasceu em uma família pobre em Cataguases (MG), foi torneiro mecânico e veio tentar a sorte em São Paulo.
O resto, porém, foi bem diferente. Hoje um dos autores mais prestigiados do país, ele pode vislumbrar um paraíso ao qual seus personagens nunca tiveram acesso. "Para mim foi realmente um inferno provisório", brinca.”