terça-feira, 18 de outubro de 2011

Uma reflexão acerca do Médico e da Medicina

Neste 18 de outubro comemora-se o Dia do Médico. Uma data muito significativa por estar diretamente ligada à saúde e à qualidade de vida das pessoas. Por isso, muitas vezes o médico é visto - equivocadamente - como a única peça de um sistema de saúde que não existiria sem ele, é verdade, mas que não depende unicamente dele. Médico e medicina são, no mundo atual, duas “instituições” completamente diferentes.
Esta reflexão é feita no texto abaixo pela médica Maria Ângela Girardi, atual presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Cataguases, onde mostra um lado pouco conhecido da população sobre estas duas realidades distintas: o médico e a medicina. O texto merece ser lido para uma compreensão melhor da realidade que nos cerca.


Maria Ângela Girardi*

O dia do médico é comemorado hoje, dia 18, e, depois de ler alguns artigos e refletir sobre as estatísticas que avaliam esta profissão, é de suma importância fazer algumas considerações. A primeira delas, certamente, diz respeito a um certo “olhar pessimista” sobre a profissão médica, atualmente muito desvalorizada. O problema, porém, é muito amplo. A população reclama ser mal atendida e da demora na fila à espera de uma consulta podendo, em algumas especialidades, durar meses ou até ano. Isto ocorre tanto para clientes de planos de saúde quanto para os usuários do SUS. E reclama também ter que pagar uma consulta, mas, por outro lado, gasta de oitenta a cento e vinte reais, todo mês, em um salão de beleza, por exemplo.

Esta realidade acaba passando a falsa imagem de que é o médico o responsável por ela. Na verdade, o médico trabalha, sim. E muito. Em inúmeras vezes a carga horária a que é submetido chega a ser desumana e degradante para conseguir uma remuneração merecida, justa, após tanto tempo de estudo. Sem contar, é claro, os médicos especialistas, como o obstetra, por exemplo, que fica à disposição de seus pacientes, particulares ou de planos de saúde, sem ganhar nada por isto.

Muitos convênios pagam ao médico entre vinte e cinquenta reais por uma consulta que, deduzindo impostos e despesas de consultório, este valor, ao final, cai para quase metade. Estes mesmos convênios remuneram o médico em trezentos reais por um parto de enfermaria. Mas, se para o consumidor os planos de saúde são tão caros e o médico ganha muito pouco, o lucro está caindo nas mãos dos intermediários de grandes empresas. Estudo feito pelas Operadoras de Planos de Saúde mostra que há dez anos o honorário médico correspondia a 30% de toda a despesa destas empresas. Hoje este percentual está entre 12 e 15%.
É importante que todos reflitam sobre esta situação.
Quando o assunto é a má distribuição dos médicos nas diferentes regiões do Brasil, constatamos, ainda mais claramente, as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos. Por conta desta triste realidade, muitas vezes ele é acusado de causar prejuízos ao paciente, especialmente quando há falta de recursos no atendimento. A solução deste problema não está – ao contrário do que muitos podem imaginar – no aumento do número de vagas nos cursos de Medicina, que já é enorme (o Brasil é o segundo país em escolas de medicina do mundo).


A Grã-Bretanha, por exemplo, com três vezes mais habitantes do que o estado de Minas Gerais tem cem faculdades de medicina a menos. Portanto, não são os médicos os únicos culpados pelo caos da saúde. Acredito que, como a maioria da população, somos vítimas de uma gestão mal organizada, políticas públicas mal conduzidas com prioridades distorcidas e recursos mal aplicados e, com certeza, da corrupção na saúde.
Vale ressaltar também que, como em outras profissões, faltam a alguns médicos qualidades essenciais ao exercício da medicina como dedicação, atualização profissional, humildade e humanidade. Muitos destes profissionais sequer olham ou fazem o exame clínico em seus pacientes que os procuram com timidez e amedrontados por uma possível doença. Isto é vergonhoso para todos nós da classe médica e nos deixa indignados com estes profissionais que não fazem por merecer o nosso respeito e o da população. O importante aqui também é deixar claro que o cliente é o senhor desta situação porque é livre para escolher o profissional que desejar. Mas quando ele não tem esta opção o problema ressurge.


Independente das características individuais de cada profissional, acreditamos que podemos sim, ser agentes da transformação do atual quadro de saúde em nossa cidade, ao lutarmos por remuneração digna, condições de trabalho adequadas e respeito incondicional ao ser humano. Porque nos foi dada a oportunidade ímpar de poder cuidar, tratar, acalentar sempre todo aquele que nos procura por uma ajuda mas, com certeza, sem perdermos o nosso direito de cidadãos.
(Maria Ângela Girardi, é medica e presidente eleita da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Cataguases – Gestão 2011-2014)

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